domingo, novembro 11, 2007

Vou-te contar um segredo....



Há dias em que me sinto com super poderes, em que me sinto uma espécie de super-herói daqueles tirados da B.D. Há dias em que me apetece fugir, em que me apetece gritar ou simplesmente virar costas e nem responder. E há dias em que me recordo do momento em que interiormente decidi que queria ser médica. Não foi num daqueles dias de super poderes.
Não pensei em estatutos, em qualidade de vida, em bons ordenados, em porches ou casas com piscina, nem em reconhecimento por contributos em avanços na ciência. Imaginei que se um dia mesmo que tudo o resto falhasse na minha vida, seria feliz a cuidar dos que sofrem.
Nunca esperei coisas extraordinárias na minha vida, e considero ser já uma pessoa exigente ao esperar ter uma vida simples e feliz (seja isso lá o que fôr).
E entre o medo que me abarca agora, de ter de decidir não o que quero 'fazer', mas antes o que quero 'ser' "quando fôr grande", veio-me à cabeça o Dr. M. quando me disse - Não vás para M.I. que ainda vais perder esse teu lindo sorriso!
Na altura sorri e ignorei, hoje se pudesse respondia-lhe: Oh M. não digas isso, quando construímos uma casa, não podemos esperar viver lá só momentos de alegria, mas só a ideia de a estarmos a construir... como é que não se sorri?

quinta-feira, novembro 01, 2007

Liguei o complicómetro

Eu sei que sou uma miúda complicada.
Viajo ao lado do condutor, recostada no meu banco, num misto de consternação e contemplação pelo que me rodeia. Observo o trânsito – aparentemente demasiado complicado para mim. Para mim, que ainda não venci uma certa aversão a conduzir em auto-estradas. Já confessei (ao condutor) que tem, a meu ver, uma condução agressiva, que contidamente me irrita – afinal vou de boleia. Aqui (ali) definitivamente tinha medo de conduzir, provavelmente iria quase sempre pela faixa da direita, o que no fundo deve reflectir também uma forma de estar na vida. A minha forma de estar na vida – arrisco pouco, será? Não sei. Sei sim que sou uma miúda complicada.
À minha volta tudo ganha enormes dimensões, desproporcionais mesmo. E sinto-me pequena, encolhida, um Zé - ninguém. Não me sentiria segura se vivesse aqui, paradoxalmente porque acho que em última instância tenho de me sentir independente, capaz de pelo meu próprio pé aos sítios que me forem mais necessários e queridos. Porquê? Eh pá, porque os carros avariam, porque às vezes há greve de transportes, porque simplesmente gosto de andar a pé. Porque sou uma gaja complicada, pronto!
Em jeito de resposta por ter chamado a alguém de “filhinho da mamã”, recebo um “ah e tal mas tu também não consegues largar a tua família”. E eu sinto as lágrimas a virem-me aos olhos e respondo que “não é bem isso, tu não percebes…” Não percebes o que é estar no meio de uma tempestade e não ter ninguém a quem ligar a pedir se me pode ir buscar. E eu raios, já sou adulta, também não se morre por se atravessar uma mini tempestade, mas é triste percebes? É triste não estar confortável sozinho em casa por algum motivo e consciencializares que todos os teus “santuários” estão a muitos quilómetros de distância.
Sou uma menina de nariz empinado, aparentemente muito dona de si, mas uma menina que precisa de sentir fortes alicerces por debaixo do chão que pisa.
Na vida há muitas relações mutáveis, muitos interesses díspares, muitas circunstâncias inesperadas, que num dia de menos alento conduzirão o nosso espírito a sofregamente desejar habitar os nossos “santuários”. É um negócio de alto risco abandonar-se estes “santuários”, não sabendo como os encontraremos após tempestades ou dias de tórrido calor passados na nossa ausência.
Não me sinto uma pessoa de negócios de alto risco. Sou definitivamente uma miúda complicada…